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Agosto | 2015

Jornal da Ascipam

www.ascipam.com.br

2

Umteimosoeducado

Precisa-se

Expediente

ascipamemdia

PedroMoreira

Carlos Henrique de Souza

E

m nosso tempo de estu-

dantes, eu e meu amigo

João Teodoro editávamos,

numa gráfica de Belo Horizonte, o

saudoso

“Jor-

nal

Paraense”,

composto num

trambolho cha-

mado “linotipo”.

A

desajeitada

máquina estava

mais para um

dinossauro do

que para um

simples equipa-

mento gráfico.

À época, porém,

ela figurava en-

tre as maravilhas da tecnologia do

setor.

O jornal era um tabloide bem es-

crito, português asseado, diagrama-

ção atraente, com editorial, repor-

tagens, artigos, crônicas e colunas

variadas. Não sem razão, brilhava

como destaque nas exposições de

jornais do interior, comuns naquele

tempo.

C

aros associados,

Diante do triste e la-

mentável momento da

história do Brasil, com contínuos

escândalos de corrupção, reprodu-

zimos o texto:“Precisa-se de maté-

ria prima para construir um país”,

do escritor João Ubaldo Ribeiro.

“Provocativo e oportuno, ele fala

sobre nós, brasileiros, trazendo a

liçãodequea verdadeiramudança

na atual conjuntura depende de

cada cidadão”, comentou Lázaro

Luiz Gonzaga, presidente da Feco-

mércio.

JoãoUbaldoRibeironosescreve:

“ A crença geral anterior era a de

que Collor não servia, bem como

Itamar e Fernando Henrique. Ago-

ra alguns dizem que Lula não ser-

viu e que Dilma não servirá para

nada...

Por isso, estou começandoa sus-

PedroMoreira é professor de

Português, revisor, consultor,

autor dos livros“Casos &Coisas

doParáAntigo”,“Cronicontos”

e“OPássaro e aDona&Outros

Textos”, coautor da coletânea

“Pará deMinas, meu amor”.

Carlos Henrique de Souza

Presidente

Jornal daAscipam

é uma publicação da

Associação Empresarial de

Pará deMinas

Ano XX - Número 239

Agosto 2015

Presidente

Carlos Henrique de Souza

Vice-Presidente

Sandra Araújo

Diretor Administrativo

Evandro de Oliveira Silva

Diretor Financeiro

Eduardo de Almeida Leite

Diretor de Produtos e

Serviços

Sérgio RaimundoMarinho

Diretor Comercial/ Expansão

CláudioMárcio deMoura Cabral

Diretor de Eventos e

Comunicação

Paulo AugustoTeixeira Duarte

Diretor Social e Comunitário

Ênio Fonseca Amaral

DiretoriaAssistente

AlexandreMachado de Oliveira

Daniel Chaves Peixoto

Giovanni Rodrigo Diniz

José Dimar Mendes

Maria Cristina Aparecida de Almeida

NilsonMendes dos Santos

Silvana Aparecida Ferreira Araújo

Conselho Fiscal Efetivo

Mário Augusto Silveira Pinhão

Márcia Cecília de Araújo

Ronaldo Pinto CoelhoMendes

Suplentes Conselho Fiscal

HaroldoM. Faria Pinto

José Fernandes Guimarães

Milton Henriques Guimarães

Diagramação

Publique

producao@publiqueweb.com.br

(37) 3231-3400

Redação

Publique

Rua BeneditoValadares, 478, sl 104

Centro - Pará deMinas -MG

Fone (37) 3231-3400

Asmatérias assinadas são de inteira

responsabilidade de seus autores.

Como revisor do semanário

(eventualmente um de-vez-em-

-quandário...), eu visitava com

frequência a gráfica onde ele era

confeccionado. Entre os funcio-

nários encarregados de operar os

tais trambolhos, havia umnordes-

tino autointitulado “estudioso” da

língua portuguesa, fato que justi-

ficava a presença de alguns livros

tira-dúvidas, afora um gordo di-

cionário, tudo muito bem dispos-

to numa estantezinha, no fundo

da gráfica.

Ser “estudioso” do idioma lhe

conferia certa moral para questio-

nar construções por acaso usadas

em nossos textos, coisa que ele

fazia com firmeza admirável, mas

sem constrangimento nem arro-

gância. No fundo, era uma criatura

bem-intencionada.

Uma vez, ao noticiar os transtor-

nos causados à cidade por uma

tromba d’água, escrevi que “as

águas ALAGARAM a praça, che-

gando a inundar algumas casas”.

Ao revisar a matéria, notei um

equívoco: o rapaz havia compos-

to ALARGARAM a praça. Cortei o

“R” intruso, resgatando o verbo

original ALAGAR, isto é, inundar,

transformar em lago. O moço in-

sistia em interpretar a mensagem

por outro ângulo porque, em seu

entendimento, a força das águas

tinha sido tamanha a ponto de

ALARGAR a praça, tornando-a

mais larga...

Após uns dez minutos de diá-

logo, confessou desconhecer o

verbo “alagar”, tal como eu havia

escrito. Ao cabo das contas, ele se

deu por vencido. Ainda bem que

se tratava de um teimoso educa-

do, acimade tudo respeitosoehu-

milde. Nem foi preciso consultar

o dicionário adormecido lá num

cantinho da gráfica. (Ah, psicótico

predisposto à paz é outra coisa...)

Já o psicótico renitente esbra-

veja, esperneia, se encrespa. Não

entrega os pontos, nem que a

vaca tussa... Afinal, de um jeito ou

de outro, acha que vai conseguir

“provar”a sua falsa verdade.

peitar que o problema não esteja

no ladrão corrupto que foi Collor,

ouna farsa que foi o Lula. Oproble-

ma está em nós.

Nós como povo.

Nós como maté-

ria-prima de um

país.

Veja... Per-

tenço a um país

onde a “esper-

teza” é a moeda

que sempre é

valorizada, tanto

ou mais do que

o dólar. Um país

onde ficar rico –

da noite para o dia – é uma virtude

mais apreciada do que formar uma

família baseada em valores e res-

peito aos demais.

Pertenço a umpaís onde, lamen-

tavelmente, os jornais jamais serão

vendidos como em outros países;

pondo umas caixas nas calçadas

onde se paga por um só jornal e se

tira um só jornal, deixando os de-

mais onde estão.

Pertenço ao país onde “em-

presas privadas” são papelarias

particulares de seus empregados

desonestos, que levam para casa,

como se não fosse roubo, folhas de

papel, lápis, canetas, clipes e tudoo

quepossa seútil parao trabalhode

seus filhos e/ou para elesmesmos.

Pertenço a umpaís onde agente

se sente o máximo porque conse-

guiu “puxar” a tevê a cabo do vizi-

nho; ondeagente fraudaadeclara-

ção de imposto de renda para não

pagar imposto, ou pagarmenos.

Pertenço a um país onde a fal-

ta de pontualidade é um hábito.

Onde os diretores das empresas

não valorizam o capital humano.

Onde há pouco interesse pela eco-

logia; onde as pessoas atiram lixo

nas ruas e, depois, reclamam do

governo por não limpar os esgo-

tos. Ondeopovo saqueia cargas de

veículos acidentados nas estradas,

pega atestado médico sem estar

doente (sópara faltar ao trabalho)...

Um país onde; quando se viaja a

serviço pela empresa, se o almoço

custou 10, pede-se nota de 20. Um

país, onde se comercializa objetos

doados nessas campanhas de ca-

tástrofes, compra-se produtos pira-

ta,mesmocomaplenaconsciência

de que são pirata.

Um país onde, quando se en-

contra algum objeto perdido na

maioria das vezes não devolve; um

país onde se falsifica tudo, tudo

mesmo!... Só não se falsifica aquilo

que ainda não foi inventado. Um

país, por fim, onde se quer que os

políticos sejam honestos. Um país

onde fazemos um monte de coisa

errada, mas nos esbaldamos em

criticar nossos governantes.

E o brasileiro reclama de quê,

afinal?

Aqui, nossos congressistas tra-

balhamdois dias, por semana, para

aprovar projetos de leis e leis que

só servem para afundar o que não

tem; para encher o saco dos que

têmpouco, ebeneficiar sóaalguns.

Como “matéria-prima” de um

país, temosmuitas coisasboas,mas

nos falta muito para sermos os ho-

mens e as mulheres de que nosso

país tanto precisa.

Esses defeitos, essa “esperteza

brasileira” congênita, essa deso-

nestidade empequena escala, que

depois cresce e evolui até se con-

verter em casos de escândalo, essa

falta de qualidade humana, mais

do que Collor, Itamar, Fernando

Henrique, Lula ou Dilma, é que é

real e honestamente ruim, porque

todoseles sãobrasileiros comonós,

eleitos por nós, nascidos aqui, não

emoutra parte domundo...

Entristeço-me.

Entristeço-me

porque, ainda que Dilma renun-

ciasse hoje mesmo, que o próximo

presidente que a suceder terá que

continuar trabalhando com a mes-

ma matéria-prima defeituosa que,

como povo, somos nósmesmos.

Um próximo presidente não po-

derá fazer nada... Na verdade, não

tenho nenhuma garantia de que

alguém o possa fazer melhor. Mas

enquanto alguémnão sinalizar um

caminho destinado a erradicar, pri-

meiro, os vícios que temos como

povo, ninguémservirá.

Não esperemos acender uma

vela a todos os santos, a ver se

mandam um messias. Nós temos

que mudar! Um novo governante

com os mesmos brasileiros que aí

estão não poderá fazer nada... Está

muito claro... Somos nós os que te-

mos quemudar.

Sim! Decidi procurar o responsá-

vel, e estou segurodequeoencon-

trarei quandome olhar no espelho,

hoje!”

Vale a reflexão. Até a próxima!

Cantode Página