Uma viagem de ontem
Por volta dos anos 60, diria como que um dos pioneiros do transporte coletivo urbano em nossa cidade, um velho Chevrolet, anos 40, que fazia o trajeto fábrica do sítio até a confinada cooperativa de leite , atual Copará, O improvisado lotação acompanhava os horários dos turnos de trabalho da fábrica . O proprietário, o Sr. Antonio Cândido de Oliveira, para os seus amigos, atendia por Antônio galinheiro. Retornado da fábrica, vizinha do matadouro municipal, Sr. Antônio trazia sub-produtos oriundos do matadouro, víceras, sangue, que industrializava. “Antônio galinheiro”, na verdade seria o precursor de duas importantes atividades na cidade. A primeira da exportação de frango, como indicava seu apelido “Galinheiro”- pois transportava para Belo Horizonte entre sacos de abóboras e pepinos caixas de mandioca e de maior valia , os engradados de frango. A outra atividade, o transporte coletivo urbano. Entretanto para o transporte intermunicipal cabe a outro pioneiro Antônio Epaminondas Marinho que empresta o seu nome ao atual terminal rodoviário de Pará de Minas.
Em se tratando do transporte urbano, os lotações hoje atendem a uma população de cerca de oitenta mil habitantes. Entre os moradores da cidade acredito que uma percentagem de 10% jamais entrou em um coletivo, mesmo porque, preferem condução própria ou porque não têm compromissos com endereços nos bairros. Daí, quando utilizam os lotações ficam desnorteados, se travam na roleta, querem pagar com nota acima da regra, não sabem por onde entram, por onde descem, local dos pontos de parada, perto disto, longe daquilo, um sacrifício e um transtorno para a viagem..
No transporte coletivo urbano também há de se considerar os direitos dos deficientes, idosos, gestantes. Para eles, existe, em vidro lateral, o adesivo com figuras desenhadas com a expressão: “aqui eles têm preferência”. Informação esta colocada na janela, como se idoso, deficiente ou gestante fossem se assentar na janela... Outros lotações mais modernos, por imposição legal com elevador para deficiente, contém 5 lugares , bancos vermelhos, antes da roleta , acentos especiais, porém , por comodidade, ficam ocupados por pagantes enquanto idosos e outros ficam desalojados em pé, no corredor.
O Conselho Tutelar Municipal do Idoso não se preocupa com a questão, talvez delegando para a empresa a informação ao usuário. Esta, por sua vez, não dispõe de assistente social para esclarecer aos passageiros os direitos de terceiros, idosos, deficientes, gestantes.
Nesta viagem no tempo passado vamos encontrar o “trem de ferro”. Entre nós tudo é trem. Ferramenta em desuso é trem. Faca sem ponta é trem. Relógio velho é trem. Pessoa incômoda é trem, tudo é trem!....
Esta viagem folclórica é para chegar ao “trem de ferro”. O saudoso trem que fazia tremer a terra quando passava. De perto o apito ruidoso e de longe um silvo de saudade de quem partia para não mais voltar, desapareceu na curva da lembrança. Não me esqueço de uma fogosa maria fumaça, fabricada na Pensilvânia em 1925. Hoje, aos 83 anos, encalhada em uma garagem qualquer, abrigo indigno de tanta nostalgia, viagens gloriosas levando e trazendo o progresso
Março 2008