Proibir o funcionário de acessar a internet para tratar de assuntos particulares é perseguir uma falsa produtividade
O dia mal começou e seu funcionário está conferindo o saldo da conta bancária na internet. Já acabou o horário de almoço e ele está lendo as notícias em um site de informações. Perto do final do expediente ele está vasculhando a rede à procura de um hotel para as próximas férias. Com cenas assim cada vez mais corriqueiras, é natural que o pequeno ou médio empresário, preocupado em alocar bem seus recursos, se pergunte: “o acesso livre à internet no trabalho diminui a produtividade?”
Não necessariamente. A disseminação de celulares, smartphones, acesso à banda larga em casa e outras formas de viver sempre conectado deveriam nos fazer repensar a maneira como estamos acostumados a medir a produtividade. Uma recente pesquisa feita nos Estados Unidos pela Universidade de Maryland mostrou que o tempo utilizado semanalmente na internet com assuntos não relacionados ao trabalho varia em média de 3 a 7 horas por pessoa. Sem dúvida, é um tempão. Por outro lado, as questões profissionais costumam ocupar de 5 a 9 horas do tempo livre dos funcionários a cada semana. Nestes tempos em que a tecnologia permite acessar quase todo mundo a qualquer momento, a linha que separa o tempo livre do trabalho ficou difícil de enxergar.
Muitos donos de pequenas e médias empresas não percebem que essa fronteira não existe mais – pelo menos não do mesmo jeito de antigamente. Outros acreditam que o funcionário tem obrigação de interromper um jantar para atender a ligação do chefe no celular, mas acham errado ele dar uma pausa numa tarefa para ver o saldo no site do banco. Com isso, além de não estimular nenhum aumento de produtividade, esses empresários provavelmente serão considerados antipáticos e injustos.
Há ainda, uma certa ingenuidade na atitude dos que pensam resolver um problema ao cortar tudo o que não estiver explicitamente relacionado ao trabalho. Pense, por exemplo, no funcionário que utiliza com frequência o banco online. Se ele não pudesse acessar a internet da empresa, provavelmente teria de se ausentar do escritório por algum tempo, durante o horário comercial, para pagar suas contas pessoalmente. O mesmo pode ser dito sobre aqueles minutos gastos na compra online de ingressos para o teatro.
Outro aspecto importante, e muitas vezes negligenciado, é o fato de que a internet passou a ser uma espécie de recreação. Visitar sites é o que as pessoas mais fazem, em vez de ficar papeando na sala do cafezinho. Esses momentos de distração, necessários em qualquer atividade, são essenciais para recarregar baterias. Assim, nenhum de nós deve se espantar se algumas das melhores idéias para o dia-a-dia dos negócios partirem daquele sujeito que passa um bom tempo em sites de assuntos que não tem relação com o trabalho. É provável que, como poucos, ele esteja ligado em tendências daqui e de fora que podem ser traduzidas em vantagens para a empresa. E algemar esse profissional, proibindo-o de navegar na internet, traz o risco de perdê-lo para uma concorrente que lhe dê mais liberdade.
Claro que em certos casos é preciso haver políticas que protejam a empresa de complicações legais ou que a deixem vulnerável à ação de hackers. Mas antes de impor ações restritivas, pense se não seria prudente olhar a questão de outro ângulo. Afinal, se uma empresa está sofrendo com funcionários improdutivos, a internet parece um culpado muito conveniente.
Difícil mesmo é encontrar o real motivo por trás de um problema sério como esse.
Fonte: Revista Exame - Autora: Márcia Maria Cruz
Março 2008