Editorial

Outono


Geraldo Magela Alves
Diretor assistente
No outono, quando os frutos abandonam as árvores que lhes fizeram nascer, e jogam-se ao chão...

No outono, quando as folhas verdes perdem o seu viço e param de alimentar, com seu metabolismo de néctar etéreo das radiações solares, a planta, e a abandonam...

No outono, quando os pássaros migram para novas paragens, colocando o silêncio e a tristeza em torno das árvores que lhes acolheram durante as boas estações, somente para lhes ouvir o canto alegre e festivo, e sem mais nada pedir...

No outono, quando a própria terra que se beneficiou de sua sombra refrescante, torna-se seca e árida, negando alimentação...

No outono, quando todos aqueles que a admiram e aproveitaram a sua beleza também a abandonam, a árvore mantém-se viva e serena. Não desanima e aguarda. Conhece a sua missão e não se desespera. Não odeia e nem se vinga. Sabe que à humilhação sobrevirá a exaltação e, por isso, aguarda soberba Coragem o Inverno que haverá de cobri-la com nuvens cinzentas e lamacentas de humilhação, numa tentativa final de destruí-la.

Mas, na sua seiva corre o Espírito do Eterno, e ela disso bem sabe, tem consciência. E, numa atitude passiva e resignada, entende a efemeridade dos tempos. Então, passado este, vê nascer em seu mais distante ramo um broto, como que lhe anunciado as recompensas por tamanha Coragem. É a Primavera que surge. E, novamente, a terra volta a lhe dar alimento, as folhas retornam com seu verde de Esperança, os pássaros em seus galhos voltam a fazer morada, as flores e os frutos a lhe enfeitar e, finalmente, as pessoas a lhe admirar. É a glória, conquanto que passageira, mas por demais nobre para ser desprezada.

Nas estações de Outono, saiba imitar a árvore.