Canto de Página
Haja “sujismundos”!
Pedro Moreira
Professor de Português, revisor, consultor, autor dos livros Casos & Coisas do Pará Antigo, Cronicontos e O Pássaro e a Dona & Outros Textos.
Meu amigo e eu ficamos naturalmente perplexos diante da lastimosa cena. A pouca-vergonha da moça poluidora estarreceu-nos a ponto de despertar em nós profunda indignação. Aquele nisto de ousadia, falta de caráter e civilidade não calhava com o aparente nível de nossa personagem trapalhona: rosto saudável e bonito, endinheirada, bem-situada nos degraus convencionais da vida, mas casca-grossa em questão de educação ambiental.
X mora num bairro quase central. Da sala de sua casa, é possível devassar a varanda de uma residência vizinha, nem tão distante. Aos domingos, beirando o meio-dia, ouve-se a algazarra de rapazes e moças estourando latinhas de cerveja. “Até aí, nem tanto” — diz meu amigo X, morador no bairro Y. “O pior é o que vou lhe contar. A moçada vai atirando as latinhas vazias, às dúzias, num lote contíguo à residência, por sinal muito malcuidado.
Não lhes importa que seja esse um comportamento de cafajestes” — informa o irônico X. E completa, com uma tristeza no olhar: “Por mal dos pecados, o vizinho dos fundos é outro tremendo “sujismundo”. Sua empregada tem ordem para lançar no mesmo lote as sobras da comilança diária da família. Os ratos já devem ter organizado sua confraria no local, tamanha a variedade de comida: feijão, arroz, carnes, massas de todos os tipos e sabores, sem contar as sobremesas. Enfim, proteínas para nenhuma ratazana botar defeito”.
E assim vamos tocando a vida...
Ludmila assistiu, outro dia, a uma cena igualmente deplorável, digna de ser filmada para o arquivo das lamentações. Também numa sossegada rua de bairro, uma senhora “varria” o passeio com sua mangueira. De repente, toca-lhe o celular, espetado no bolso do short. Sem nenhuma preocupação de desligar a torneira do jardim, displicentemente ela atira ao chão a mangueira e se põe a papear ao telefone. “A dona deve ter espichado a conversa por uns bons dez minutos” — calcula a vigilante Ludmila.
Fiquei imaginando a cena de uma típica burrice galopante: a água jorrando sarjeta afora, o hidrômetro registrando o crime em números, e o indiferentismo estampado na cara da proprietária, decididamente uma irresponsável.
Pensando bem, vivemos cercados de carrascos do meio ambiente: o atrevido que descarta pneus velhos em quintais, terrenos baldios e rurais ou à beira de estradas; o sem-educação que atira detritos pela janela, poluindo a rua; o sem-consciência que transforma sua casa num fumódromo, pouco lhe importando que a fumaça vá molestar toda a família, até mesmo idosos e criancinhas; o inimigo das árvores, carrasco das plantações. Ele ateia fogo às matas, por instinto selvagem; o “colecionador” de entulhos. Seu quintal é um depósito de cacaréus de construção, moradia de ratos, escorpiões e baratas. Haja “sujismundos”!