Canto de Página
Conversa vai...
Pedro Moreira
Professor de Português, revisor, consultor, autor dos livros Casos & Coisas do Pará Antigo, Cronicontos e O Pássaro e a Dona & Outros Textos.
Menos teoria e mais atenção ao ensino dos fatos lingüísticos do português funcional. Essa, a receita de um professor paulista, referindo-se ao despreparo de grande número de jornalistas e publicitários jogados no mercado de trabalho pelas faculdades específicas. Ele dá como prova da má formação cultural o nível de certas publicações: textos sofríveis, desprezo à boa linguagem,
apresentadores (rádio e TV) reincidentes no emprego de construções esdrúxulas, tais quais gratuíto, previlégio, extorquir o industrial, correr risco de vida, récorde, deixa eu falar com fulano, prazeiroso, o técnico vai manter o mesmo time, Prêmio Nóbel, reverter a situação, rúbrica, vítima fatal (em vez de gratuito, privilégio, extorquir dinheiro do industrial, correr risco de morte, recorde, deixe-me falar com fulano, prazeroso, o técnico vai manter o time, Prêmio Nobel, inverter a situação, rubrica, vítima com morte). Por essas e outras é que se reforça a afirmativa de Alceu Amoroso Lima, jornalista e escritor, um dos maiores pensadores do Brasil: “O diploma de jornalismo é apenas um certificado de estudos, não um atestado de valor”. (Pensando bem, esse conceito é aplicável a quase todas as profissões...)
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O engenheiro José Antônio Ferreira de Oliveira não se conforma com a inadvertência de quem aceita, sem questionamentos, a forma popular “pará-minense”. Lembra que dois respeitáveis filólogos, ninguém menos que Aurélio Buarque de Holanda e Antônio Houaiss, em seus dicionários abonam a forma PARAENSE referentemente a Pará de Minas. A mesma lição é dada pelo Prof. Ayres da M. Machado Filho, em seu livro “Escrever Certo”. O engenheiro argumenta lá com sua lógica matemática: “Quem nasce em Minas não é minense. É mineiro”.
José Antônio tem um desabafo: “Ora, peitar os entendedores da língua já é demais!” As pessoas sensatas concordam, não é, padre Adriano?
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As palavras, assim como os seres por elas designados, nascem, vivem e morrem – ou simplesmente ficam de quarentena. Não é preciso muito esforço para lembrar um monte, certamente desconhecidas de quem se sente na flor da idade. Vejam lá: botica (farmácia), latrina (vaso sanitário), bidê (apetrecho auxiliar da privada), urinol (penico), algibeira (bolso), navalha (lâmina com cabo para barbear), capanga (sacola), retiro (chácara), espórtula (esmola), brilhantina (gel para cabelos), tamancos, quedes (hoje tênis), padiola (hoje maca), fornalha, galocha (espécie de capa de borracha protetora de calçados), alpendre (varanda), radiola (som), catre (cama), calçadeira, bangalô (casa pequena, estilo colonial, com jardim à frente), terreiro (quintal), tinteiro, caneta-
tinteiro, sabatina, (prova escolar). E quantas e quantas...
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Conversa vai, conversa vem, as faixas de pedestres quase não têm sido respeitadas por nossos condutores em geral. Falta à maioria deles a educação do trânsito, desconhecem as normas que regem a circulação de veículos. Há pouco presenciei tal fato nas proximidades do Hospital N. Sa. da Conceição. Vários transeuntes ficaram exatos quarenta segundos à espera da “procissão”
de veículos, cada qual mais apressado que outro. Até que apareceu uma simpática motorista com seu Pálio. Ela freou simpaticamente o veículo (tudo ficou simpático naquela simpática cena de gentileza urbana...), sob elogios da parte interessada. Os outros motoristas, é claro, não ousaram avançar a faixa. Que tal uma campanha educativa, em nossos meios de comunicação, a favor das faixas?